A Ascensão do Faraó
A História omite muitas histórias
7431 anos Antes da Era Comum (AEC)
Os deuses às vezes ficam furiosos e nada melhor do que o sangue de inocentes para acalmá-los.
- Krommah, aceite a alma de Argothi como um presente, que o seu sangue encha o rio Asmath e eleve o nome de Tanaris às estrelas.
E assim, o guerreiro mais forte regou as planícies, trazendo fartura e prosperidade aos homens da areia. Não por sua vontade, mas por uma traição do seu exército, que temendo a um Deus invisível, sacrificou um herói de carne e osso. Agora eles não temem mais a ira dos deuses.
Século V AEC
Todos presentes tem seu preço
- Tanaris é uma dádiva de Asmath.
272 EC
Dizem que a palavra dos deuses é um fogo consumidor. Hoje eles resolveram visitar a biblioteca de Tanaris e palavras queimam palavras.
- Eles estão furiosos. Acabaram com todo o conhecimento que nos deram. Só nos resta a memória de Rahemos. Vamos colocá-lo em sono profundo e preservar sua sabedoria.
- Ele é a alma da biblioteca, acha que aceitará a mumificação em vida de bom grado?
- Sim, tal sabedoria não poderia vir desse mundo e ele sabe que tem uma missão.
- Então o faça. Mas saiba que o filho de Krommah, Ashmunrah, o punirá assim que assumir o trono. E ainda destruirá a múmia mais sábia do mundo. E daqui a pouco lhe será entregue o reino.
- Chame Omruc, o necromante, deve haver algum modo...
- Ele pode reanimar o morto, mas não pode trazer sua alma de volta.
- Não temos mais que dois tombos da ampulheta, rápido.
- Para quem já morreu, a ampulheta não passa de um enfeite, precisam de mim senhores?
- Precisamos de Rahemos...
- Entendo. A minha família passou 7000 anos aprimorando a arte da vida, que outros conhecem como arte da morte,. Até agora, podemos manipular a alma de um corpo a outro, mas não podemos animá-la depois que troca de corpo e adormece. Isso quer dizer que posso transferir Rahemos para algum objeto, mas jamais poderíamos chamá-lo.
- Será suficiente por agora, logo você poderá reanimá-lo...
- Isso não se faz em dias, serão necessárias muitas gerações de estudo e aprimoramento.
- Que seja! Coloque o corpo de Rahemos em uma esmeralda.
- Não seja tolo! Uma esmeralda chama a atenção e pode ser roubada. Vamos colocar o que temos de mais valioso nesse mundo em algo sem valor: um grão de areia.
- Mas um grão de areia irá se perder...
- Quanta falta de imaginação, um grão de areia dentro de uma ampulheta jamais se perderá.
- Apenas um adorno para o morto...
- Agora precisamos falar com Rahemos.
- Procurando algum conselho? Ou apenas querendo praticar sua necromancia em um aprendiz como eu?
- Rahemos, como sabia que falávamos sobre esse assunto?
- Você subestima demais o saber da biblioteca. Então o plano é me fazer dormir.
- Uma ampulheta e meia, está quase na hora da reunião com Ashmunrah.
- Rápido Rahemos, segure esse grão de areia.
- Acha que consigo fazer uma runa com isso?
- Pare de graça, temos pouco tempo.
- Que seja, sem despedidas.
E assim, Ashmunrah pensou ter destruído a última ameaça ao seu reinado. A felicidade foi perene durante seu governo. Mas as sementes da ignorância já haviam sido plantadas. E a humanidade assim viveria.
-Meus súditos, é tempo de deixá-los. Tenho uma longa jornada de volta aos meus ancestrais.
Depois de cumprida a missão, o Faraó Ashmunrah entrou no sarcófago.
2500 EC
- E então, mamãe, o que aconteceu com a biblioteca de Tanaris?
- Ela foi queimada para que os homens se lembrassem sempre de que nunca serão Deuses.
- E Krohmah e Ashmunrah virão um dia nos visitar?
- Sim, filho, quando formos dignos.
2527 EC
- Dignos, dignos, dignos....
- Horestis Omruc, que sonho estranho você teve.
- Sim, Deuses nos visitando e eu somente com uma ampulheta na mão. Eles me perguntado se eu era digno e você do outro lado...
- Você acha que era verdade que nossos ancestrais podiam reviver os mortos?
- Que besteira, claro que não. Era uma maneira simbólica de dizer que sempre os teriam na memória.
- Não sei, mas não te contei o meu sonho.
- Aposto que não foi tão bizarro quanto o meu...
- Agora que você me contou o seu, começou a ficar.
- Largue de suspense, você não é o Dan Brawn.
- Bem, havia um lago refletindo as estrelas, mas ele não deveria estampar o sorriso do cosmo, era um lago subterrâneo. Em sua margem, havia um corpo mumificado com um livro e uma ampulheta na mão. Ele estava ajoelhado, parecia pedir algo. Quando cheguei perto, não estava mais lá. Vi apenas estrelas ao longe e estava flutuando.
- Essa porcaria de ampulheta que nossos avós tanto estimam, foi isso. Mas logo damos um fim nelas, não servem pra nada hoje em dia que temos relógios.
- Jamais, ela é feia, mas gosto de antiguidades.
- Você e sua mania de querer voltar ao passado. Sempre sonha com pirâmides, areia, deserto...
- Bem, se não fosse os antigos heróis, jamais estaríamos aqui.
- Acredita nesses mitos?
- Não sei te explicar, mas tenho certeza de que não são lendas.
- Certo, só porque botaram Argothi Omruc em seu nome, acha que é o próprio rio Asmath.
- Tanaris pode estar hoje extinta, mas sei que existiu e fico feliz em homenagear um herói com meu nome.
- Você precisa de menos felicidade e mais cérebro.
- E você precisa de mais livros, talvez consiga trocar algum por um pedaço de língua, acho que não te fará falta.
Em algum lugar distante, uma pedra se moveu e todos ficaram alarmados com o mau presságio. Os Deuses às vezes temem as profecias dos homens.
- Ashmunrah, volte! Achei que essa hora jamais chegaria.
- Mas Krommah, é impossível.
- Não sei onde nem como, mas parece que esconderam algo de nós há muito tempo.
- Mas hoje não existem mais faraós, em que forma voltarei?
- Não os fizemos se matar em guerras à toa, você será o promotor da paz.
- Mas se eu nascer, precisarei de pelo menos 20 anos.
- Existe uma sociedade secreta que ainda nos cultua. Hoje ela fará um sacrifício para te dar um corpo.
- E não acharão estranho isso acontecer?
- Você matará todos nossos seguidores depois que eles acabarem seu sacrifício na pedra.
- A volta de Tanaris, voltarei a ser o adorado Faraó.
E assim, um líder, que o mundo pensou ter perdido em um assassinato, volta. E em rede pública, encanta a adultos e crianças, ricos e pobres, religiosos e céticos. E os problemas do mundo começam a ser resolvidos e todos que o reconhecem como Senhor entendem o significado da palavra plenitude.
Entretanto, nem o Faraó pode agradar a todos. E aqueles que não o seguem, são internados em hospícios para curar sua loucura.
- Esse sim é uma lenda. Olha só, temos uma vida melhor, parece até que ele esteve presente em toda história do mundo.
- Discordo, mas não falo em público para não ir ao hospício. Quantas obras de arte surgiram depois dele? Que pensamentos diferentes podemos ter?
- Você e suas divagações... Pense em termos práticos, já temos o que precisamos.
- Fala igual a um escravo. Daqui a pouco estará construindo pirâmides para tiranos.
- Por falar em velharia, dei fim na ampulheta ontem.
- Que?
- Bem, tive um sonho estranho de novo, me estressei e joguei no chão, o vidro quebrou. Mas a areia tinha um brilho estranho. Separei dois montes e somente um ficou com o brilho. Depois separei novamente e aconteceu o mesmo e assim foi. Tem um punhadinho de areia brilhante lá.
- Deixe-me ver.
Quando Horestis e Argothi chegaram perto do monte de areia, uma voz ecoou em suas consciências e viram tudo que havia acontecido na biblioteca e as gerações seguintes. E havia uma escolha a ser feita.
Ser feliz junto a todos... Ou acabar com a ditadura imposta pela diversão e trazer ao mundo a luz do verdadeiro conhecimento.
- Não há Deuses, disse uma voz grave que ecoava pelo quarto. Eles são seres mais avançados que necessitam de suas vidas para se manterem vivos. Esse lugar, que vocês chamam de lar, serviu como criadouro de almas. Cada sacrifício os rejuvenesce.
O que eles te darão não tem valor algum comparado ao que querem tirar de vocês. Por isso destruíram todos os livros da biblioteca e os deixaram na ignorância. Argothi, há muito tempo, tentou impedi-los, mas eles secaram o rio e seu o povo néscio escolheu o pior caminho, o mais feliz. Vocês tem a chance de mudar isso, mas terão que se sacrificar e tornar-se uma nova criatura, que enxergue todo o passado, somente assim conseguirão convencer a todos. A arte da necromancia foi aprimorada por sua família para que vocês pudessem me reviver. Agora usem seu conhecimento e me libertem desse grão de areia!
E assim fizeram os dois irmãos, e o grão de areia juntou-se aos dois, tornando-se um único ser: Rahemos Arghotis, o guerreiro mais sábio que poderia existir.
E começou a guerra.
- Krohmmah, será o início de uma nova era. A era do conhecimento.
- Arghoti, com tantas mortes na guerra, viveremos eternamente.
- Não te deixarei escravizar a humanidade.
- Continuemos a guerra. Ela é boa para nós. Deve haver o bom e o mau.
E assim, até hoje a humanidade continua guerreando e alimentando os deuses que mudam de nome de tempos em tempos.